domingo, 3 de janeiro de 2016

MAS QUEM PROTEGE A POLÍCIA?



Cresci ouvindo meus pais dizerem que polícia era do bem. Aprendi que policiais não deveriam ser temidos, mas honrados como agentes protetores da sociedade. Meus filhos sempre ouviram e ouvirão de mim que a Polícia existe para proteger e que não há porque temê-la.

Nesse domingo ao sair de um shopping com meu pequeno Matheus (2 anos e cinco meses), ele disse: - Olha papai, um carro da “poliça”. Para papai, para papai. Quero falar com a poliça.

Emparelhei meu carro, baixei os vidros e ouvi o diálogo.

Matheus -  Oi, poliça. Você vai prender bandido?
Policial – (risos) vou sim. E você cresça e estude viu.
Matheus – Xau, poliça. Boa tarde.

O policial com um sorriso de certo modo, contemplativo e grato, sorriu para meu Matheus.  E fomos embora. Encontramos outra viatura numa rua do Valentina, e Matheus acenou com um olhar de admiração, me fez parar o carro, apenas para dar um "xau".

Fui deixá-lo na casa da mãe, ele me abraçou entusiasmado e disse: Papai, papai. Eu tomei sorvete e falei com a Poliça. Poliça prende bandido e protege “mim”, né papai?

Sai de João Pessoa para Patos pensando sobre essa admiração que temos (eu e a mãe dele) plantando de modo justo no coração do nosso filho, com relação aos que entendemos verdadeiramente serem agentes do bem. 

Pensei sobre como a sociedade vê a polícia, como preparamos nossos filhos para tratarem tais autoridades. Mas uma frase de Matheus não saiu da minha mente: Poliça prende bandido e PROTEGE MIM, né papai?”.

É, a polícia existe para proteger mesmo. E é isso que ela faz. Sim, a maioria dos homens e mulheres da polícia, é gente de bem, decente, honesta, guerreira e protetora da sociedade. Existem “almas podres” na polícia? Certamente. Mas onde não? Porém de modo geral, cada paraibano deve ter orgulho da polícia que temos.

A polícia protege, mas quem protege a polícia? Essa outra pergunta tem martelado minha cabeça.

Quem protege esses homens e mulheres guerreiros que lutam, que se doam, se entregam na busca por uma sociedade mais segura?


Hoje li sobre a morte de um sargento da Polícia Militar da Paraíba. Vi diversos depoimentos sobre esse guerreiro, mas me emocionei com as palavras da Sargento Ericka Silva. A jovem militar trabalhou no último ano com o Sargento Sandro. Em suas palavras, assevera que era um homem comprometido com a polícia e que amava a sua família.

Confesso que chorei a morte desse ilustre cidadão. Sim, Sandro era ilustre. Assim o considero, mesmo que não o conhecesse. Ele existiu para proteger. Mas ninguém o protegeu. A sociedade não o cuidou, o Estado não lhe deu segurança.

Sandro é vítima da insegurança contra qual lutou até a morte. Esse ilustre defensor da Paraíba foi vítima do descaso que o Estado mantém ao longo de sua história, para com seus policiais, sejam eles civis ou militares.

Esse guerreiro não morreu em virtude de estilhaços, de erro médico ou mesmo da ação de um bandido apenas. Ele foi morto ao longo dos anos, pela mesma mazela nojenta que tem maltratado a Polícia Militar da Paraíba. O descaso, o descuido, o desamor dos governos (não apenas um, mas vários) para com as policias desse Estado.

Um bandido até puxou o gatilho, mas muitos dão a munição para o ódio quando não ensinam seus filhos a honrarem quem os protege, ao contrário, os amedrontam, ensinando-os desde pequenos a serem inimigos das autoridades, pondo medo;

Um puxou o gatilho, mas muitos armam a cilada da falta de proteção quando mantém um contingente pequeno em face a uma criminalidade tão crescente;

Um puxou o gatilho, mas muitos promovem a tragédia quando não são capazes de prover meios para que esses homens e mulheres trabalhem com decência, segurança e motivação;

Um puxou o gatilho, mas muitos alimentam a insegurança que diariamente mata a polícia, o povo e um estado cada vez mais inseguro, perigoso e insano.

Sandro morreu e com ele, morre um pouco mais da esperança de tantos outros policiais que desejam servir e proteger, mas que nunca são servidos, e, de modo algum se acham protegidos.

Sandro receberá honras, aplausos, tiros para o alto, mas tenho certeza que sua família trocaria tudo isso pelo seu abraço depois de um dia de trabalho.

Até quando vamos ver homens e mulheres de bem que lutam por esse Estado sendo mortos em virtude daquilo que temos construído?

Até quando toleraremos o ódio, a insegurança, a falta de paz, os discursos vazios e mentirosos?

Até quando permitiremo-nos a escravidão do medo e da insegurança?


Como nos protegerão aqueles que não acham proteção?









Caco Pereira



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