quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

UMA CONVERSA COM MÁRCIA LUCENA, PREFEITA DE CONDE




A prefeita de Conde, Márcia Lucena (PSB) conversou hoje conosco na sede da Secretaria de Trabalho e Ação Social, onde provisoriamente funciona seu Gabinete. Diversos assuntos estiveram na pauta. Falamos desde os motivos que a levaram a decretar estado de emergência administrativa até a relação com o governador Ricardo Coutinho.

Márcia ainda disse que poderá pagar salários atrasados da gestão anterior, mas que cada caso será avaliado individualmente e só pagará àqueles que de fato serviram ao munícipio e falou da relação com a Câmara de Vereadores.

Márcia em todo tempo manteve o mesmo tom de voz e postou-se de modo seguro, mesmo quando falou de assuntos mais complexos, como a situação dos salários em atraso.

LEIA:

CACO - A senhora assumiu a gestão em uma cidade embebida no “caos” administrativo. Sua primeira atitude foi exatamente o decreto de estado de emergência. Até que pontos o Conde está realmente no CAOS?

MÁRCIA LUCENA - O Conde tá no Caos em todas as áreas. Pra você olhar para qualquer aspecto administrativo da cidade você vai encontrar o caos e o abandono instalado. Seja na parte da saúde, com os PSF´s fechados, as ambulâncias que estavam com pneus até o sábado dia 31, no dia primeiro já estavam em cima de toco, sem nenhum pneu. Falta de material como gases, seringas, algodão, coisas básicas para funcionar a saúde, e sem pessoas para trabalhar, pois elas foram demitidas. Os efetivos estavam acostumados a estar em casa há quatro anos, recebendo sem ocupar o cargo porque a prefeita não permitia isso. Então tava em total abandono a saúde; total abandono as escolas, porque recebi várias mensagens de pessoas dizendo que foram matricular os alunos e diziam que não tinha ninguém para efetuar a matrícula, ou mesmo quem estava lá nas escolas dizia que não matriculava enquanto não soubesse se iria ficar trabalhando ou não, ou seja, uma total falta de noção do que é o servidor público. Enfim era uma cidade com uma gestão sem gestor, uma coisa solta, sem rédias, sem controle, sem projeto, sem propósito, sem nada.

Você vai pra área administrativa mesmo, a lei que organizava o corpo administrativo da gestão, é uma lei inconstitucional, porque lá dentro  você tinha a Secretaria de Planejamento, ai tinha Diretor de Seção, Chefe de Seção. Chefe de Seção de quem? De onde? Pra fazer o que? Então isso, uma falha desta na lei a torna inconstitucional e ainda abre espaço para funcionários fantasmas.  Você tem que ter claro qual é a função que vai desempenhar, aonde, qual realmente sua tarefa, para que a população saiba que ali naquela secretaria tem um departamento e tem um cheque que tem essas atribuições. Isso é uma lei administrativa.

CACO – Quais medidas estão sendo tomadas para mudar essa situação?

MÁRCIA LUCENA - Nós corrigimos isso, diminuímos o número de cargos e de secretarias. Hoje temos 14 secretarias, antes eram 21. Dentre elas havia uma que funcionava em João Pessoa, sem a menor necessidade disso. Enfim, estamos tomando medidas para organizar. Fazendo levantamento na CAGEPA, na Energisa, sabendo quais os imóveis que estão registrados lá como sendo da Prefeitura, para organizar a situação de água e de luz, porque a água também estava cortada em muitos prédios.

CACO – A senhora já ideia de valor desses débitos?

MÁRCIA LUCENA - Não. Nós estamos encaminhando estes ofícios para que as fornecedoras se coloquem pra gente ver o tamanho do problema que tem. Mas onde a gente anda escuta que está sem água porque está cortada há tantos meses. Inclusive creches, que não poderia ter sido cortada, mas como na CAGEPA não está informado que o espaço é uma creche, foi cortado.

CACO – No seu discurso a senhora disse que não era tempo de ficar olhando o passado, que não haveria perseguição, frisou que ninguém estaria trabalhando por questão política, mas que cada servidor seria cobrado conforme seu desempenho profissional. O Conde tem uma cultura de duas ou três famílias se revezarem no poder. Márcia Lucena está completamente fora desse eixo familiar. A senhora acha que vai enfrentar dificuldades por isso, por não fazer parte dessas famílias que governaram a cidade?

MÁRCIA LUCENA - Eu acho que não dificuldade por isso. A dificuldade é pelo que isso causou ao munícipio. Esse monopólio, vamos dizer assim, essa soberania dessas pessoas durante tantos anos, isso causou acomodação, vícios, problemas que para a administração pública;  são muito graves, chegam a ser até criminosos, esses problemas que esse tipo de acomodação gera.

Acho que as dificuldades que vou encontrar são administrativas e próprias de mudança de paradigmas. Se você vem mudando a forma de trabalho, é muito comum que apareçam resistências a isso. Então enfrentaremos problemas exatamente com isso, mas é nossa tarefa promover essa mudança, então essa dificuldade não nos assusta não. Agora dizer que é porque não faço parte desses grupos, dessas famílias, acho que não. As pessoas estão cansadas desses grupos e dessa família, a prova foi o resultado da eleição.

CACO – A senhora criticou muito a Câmara de Vereadores na gestão anterior. Parece que a população também entendeu como a senhora, tanto que houve uma renovação enorme. Qual relação se desenha entre a Prefeita e a Câmara atual?

MÁRCIA LUCENA - Então, você falou, teve uma renovação considerável. Isso foi muito bom. E o que a gente tá convidando a Câmara é a aproveitar esse momento de renovação e mudança e agente efetivar de fato renovação de postura, de atitude, de forma de ver o comportamento da Câmara e a responsabilidade da Câmara diante da população. Isso precisa mudar.

Uma Câmara que trabalhava um dia na semana, durante duas horas, e as vezes nem isso. Sem dar satisfação a população de nada do que acontecia. Isso é coisa do passado. Isso não cabe no planeta mais, isso não dá, é simplesmente vergonhoso.  Essa Câmara está a cada dia se comprometendo com uma nova postura. Você vê que eu fiz o “ABRAÇA CONDE”, logo depois das eleições, voltando as comunidades, os vereadores estiveram como cidadãos, independente dos partidos, da caminhada que cada um teve para chegar até ali. Eles compreenderam que o diálogo  com a população é fundamental. Eles pegaram o microfone e se colocaram: Nós vamos ajudar a professora Márcia.  Nós vamos estar lado a lado com a prefeitura, em todos os projetos que forem para o bem da população.

Então isso eu acho que é fundamental, a Câmara ter um olhar crítico sobre a gestão. Não quero abrir mão disso, porque nos ajuda a caminhar melhor, mas a Câmara ter um olhar disponível à população, Isso é fundamental. Querer fazer o seu trabalho é fundamental. Eu acho que a gente não vai ter problemas com a Câmara.
Você vê que a própria lei de reforma administrativa, como a gente não teve momento de transição, a conversa, o diálogo não foi possível, tudo ficou para ser feito imediatamente depois da posse. Então nós conseguimos de duas da tarde até duas da manhã, fazer uma lei bem organizada, uma lei bonita, que eu tenho certeza que vai orgulhar e apresentar o Conde, que é essa lei da reforma administrativa.

E os vereadores tiveram a sensibilidade de votar nessa lei, mesmo sem muito tempo de estudar mais profundamente. Eu vi que eles se colocaram de forma colaborativa, nesse sentido. O que é muito importante, porque não estávamos ali com projetos para benefício próprio. Precisávamos nos organizar para inclusive nomear os secretários. Pois eu disse que não iria nomear secretários com base numa lei inconstitucional.

CACO – A senhora falou sobre a inconstitucionalidade da lei anterior. Pode citar um exemplo?

MÁRCIA LUCENA - O gabinete da prefeita, com Tatiana tinha 27 cargos, sem nenhum sentido, pois não  eram discriminados, não respondiam. Nós mantivemos os cargos, sendo que criamos diversas coordenadorias, como a da juventude, da mulher, da diversidade humana, levamos a guarda pra ocupar um cargo, a defesa civil para dentro do gabinete. Ou seja, nós demos corpo a estes 27 cargos, com pessoas, critérios e atribuições. Agora a população pode abrir o organograma do munícipio e saber que tem fulano de tal lá e ele trabalha com isso. Isso é o começo de entregar a população a gestão pública.

CACO – A senhora recebe a cidade com várias pessoas reclamando de salários atrasados. A senhora vai pagar os atrasados da gestão anterior?

MÁRCIA LUCENA - Primeiro nós estamos chamando, fazendo uma espécie de censo dos efetivos, para suas pastas, para sabermos onde estão, quem são, quais suas competências. Estamos alinhando isso. Todos os problemas de salários atrasados, vamos estudar caso a caso, por exemplo: os prestadores, isso vai ficar muito difícil a gente assumir uma dívida que Tatiana deixou com prestadores se a gente não sabe o serviço prestado por aquela pessoa. Os cargos comissionados também, se você é um “Chefe de Seção”, o que fazia? Quais foram os serviços e as horas prestadas ao munícipio para poder você receber o seu salário?

A gente vai estudar caso a caso, evidentemente o que for correto, justo e adequado, nós vamos fazer o pagamento, mas de fato não é nesse primeiro momento, porque nós não temos a menor ideia do recurso que nós temos ainda, estamos estudando essas contas, não temos a menor ideia de como vamos lidar com essa folha. Agora mesmo estamos entrando praticamente só com os secretários, algumas diretorias e assessorias, para poder “tomar pé” de tudo, a partir desse censo é que vamos saber exatamente qual a realidade do munícipio, o que é que ele tinha sendo praticado de excesso, o que estava desviado disso, porque  tinha muito problema com funcionalismo com desvio de função, então temos uma tarefa muito grande pela frente. O que for dívida concreta e comprovada, nós vamos pagar. Agora, quando isso vai acontecer só vamos saber depois.

CACO – Pela primeira vez o Conde tem uma prefeita realmente ligada ao Governador Ricardo Coutinho, inclusive com uma relação de amizade, foi inclusive Secretária de 
Educação do Estado. Essa relação vai facilitar sua gestão?

MÁRCIA LUCENA - Olha, uma coisa muito importante da gente perceber fazendo a leitura da dinâmica de gestão do Governador Ricardo Coutinho em todo o estado, você pode perceber que ser amigo do Governador não é prerrogativa que vai fazer com que os munícipios avancem. Nós temos vários munícipios ai, em que a disputa política é intensa, mas o apoio no trabalho da gestão é intensa também. O que aconteceu aqui no munícipio do Conde, não é que a prefeita deixou de ser da base do Governador, é que a prefeita não quis, não permitiu o apoio. Várias ações eram pra ter sido feitas aqui e não aconteceram porque a prefeita não permitiu. E o governo do estado não pode simplesmente chegar e atuar no munícipio. Tem toda uma legislação que determina esse tipo de relação, com convênios, pactos, enfim.

Agora o que tem entre Márcia Lucena e o Governador Ricardo Coutinho, é uma relação de conhecimento do conteúdo do projeto político, é o exercício do projeto político. Isso facilita evidentemente. Se nós estamos dentro da mesma lógica de um projeto político, nós sabemos que é um projeto testado e praticado com sucesso em todo estado.
Eu fui parte desse projeto enquanto secretária e agora serei enquanto prefeita. Então a gente sabe os propósitos, sabemos onde queremos chegar, nós temos um planejamento que responde as questões próprias de um governo socialista. Então a gente não sai fazendo ou desfazendo por uma oportunidade, porque quer ou porque gosta. Nós temos metas e propósitos que estão assentados dentro de conceitos socialistas. Essa construção evidente que facilita o trabalho. E também o fato do governador me conhecer enquanto profissional e saber que eu dou conta do recado, saber que sou honesta. Eu lidei com uma secretaria que o volume de recursos é muito maior que o Conde. Eu lidei com um bilhão e meio por ano. O governador sabe que eu nunca trouxe nem um copo ou lápis para minha casa. Então só isso já dá pra ele, eu tenha certeza, preocupado com o desenvolvimento dos lugares, das cidades, dos munícipios, porque é assim que se desenvolve o estado. Já da pra ele um alento, porque sabe que o que for colocar aqui vai ser bem executado, bem feito e vai ter honestidade no processo. Então eu imagino que seja positivo demais nesse sentido. Nós temos os mesmos propósitos, fazemos parte do mesmo projeto político, então isso facilita. 




 Caco Pereira


Imagem: Portal S1

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